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terça-feira, 2 de setembro de 2008
Realidade edulcorada
Finalmente assisti "Dreamgirls", a versão cinematográfica do musical da Broadway inspirada na trajetória das The Supremes, grupo vocal liderado por Diana Ross.
O filme transformou a ex-candidata do American Idol Jennifer Hudson em ídolo de verdade - ou quase isso - e mostrou que Beyoncé Knowles na tela grande é só decoração. Escrevo para quem já viu. se você não é um deles é melhor não prosseguir que eu vou contar o final.
Bom, partindo do pressuposto que você, meu leitor, assistiu o filme, devo informá-lo que aquele happy end edificante, com o inescrupuloso Curtis Taylor Jr. - papel de Jamie Foxx baseado no fundador da Motown, Berry Gordy Jr. - sendo obrigado a abrir mão da mulher e principal ativo da companhia para não ir em cana, e a emocionante reconciliação das amigas que saíram do nada para se tornarem estrelas nunca aconteceu. "Flo" Ballard, que inspirou a personagem de Jennifer Hudson, "Effie" White, morreu esquecida em 1976 aos 32 anos e nunca se recuperou de sua demissão das Supremes. A "boazinha-boazuda" Deena Jones encarnada por Beyoncé está muito longe do original, a diva Diana Ross. Ela nunca foi esposa de verdade de Gordy e quando teve uma filha com ele - que já era casado - arranjou um marido à pressas para assumir a criança. Não há notícias de que tenha ficado constrangida em assumir a liderança do grupo, que aliás até então, não tinha uma voz principal.Após sua saída das Supremes, em 1969, ela reencontrou suas ex-companheiras Mary Wilson (no filme, Lorrell Robinson, interpretada por Anika Noni Rose) - a única que permaneceu em todas as formações do grupo e Cindy Birdsong - que substituiu Ballard - num programa comemorativo dos 25 anos da Motown em 1983. Estava planejado que elas cantariam quatro músicas juntas, mas Diana, a Superstar, disse que só ia cantar o número ironicamente chamado "Someday We'll be Together", teoricamente a última gravação de Diana Ross & The Supremes, mas que na verdade não contou com a participação nem de Mary nem de Cindy. Em 2000, com a carreira já em baixa, Diana anunciou a turnê de retorno das Supremes chamado "Return to Love", mas em vista da diferença dos cachês - US$ 15 milhões para Diana, US$3 milhões para Mary e menos de um milhão para Cindy - as outas duas deixaram a diva falando sozinha, e os shows aconteceram com outras ex-Supremes que nunca haviam cantado com Diana antes. Como se vê, o amor só estava no nome da turnê.
Flo Ballard, por sua vez, não namorou Gordy nem teve um filho com ele, mas se sentiu passada para trás quando percebeu que o dono da gravadora estava tendo um caso com Ross. Ela de fato acabou sendo demitida após várias desavenças e além de nunca mais retornar ao grupo foi proibida de usar o nome das Supremes profissionalmente. Tentou processar Gordy e Diana por conspirarem para tirá-la do grupo que ela fundou e batizou (nenhuma das outras duas gostou do nome The Supremes inicialmente) mas perdeu a causa.
Berry Gordy Jr. criou a companhia que levou o som dos negros aos brancos do mundo inteiro, foi um grande fdp e acabou vendendo a Motown para a MCA, que hoje faz parte da Universal Music. Desde 1990 está no Hall da Fama do Rock and Roll e hoje vive em retiro no deserto da Califórnia.
O personagem de Eddie Murphy foi identificado com James Brown aqui no Brasil, mas o Mr. Dynamite nunca foi da Motown. Está mais para Marvin Gaye, cuja carga erótica Gordy tentou domar e que também chegou a ser demitido da Motown. Mas Gaye não morreu de overdose, embora tivesse um sério problema com drogas, mas assasinado a tiros pelo próprio pai.
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Na foto, capa de disco das Supremes e das Dreams do filme.
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