sábado, 24 de maio de 2008

Ciclo de Filmes Japoneses

O Videoclube Casarão apresenta no mês de junho um ciclo dedicado ao grande cinema japonês dos anos 50 e 60, centrado principalmente na obra de Akira Kurosawa, o mais famoso cineasta nipônico. Completam a mostra obras de outros dois grande mestres do Pais do Sol Nascente, Yassujiro Ozu e Kenji Mizouguchi.

ozu Dia 1º de junho - Bom dia (Ohyao/1959). Direção de Yasujiro Ozu. Com Haruko Sugimura, Keiji Sada, Toyoko Takahashi, Haruo Tanaka, Eijiro Tono, Kuniko Miyake, Yoshiko Kuga, Chishu Ryu. Uma novidade vem abalar um tranqüilo bairro da periferia de Tóquio: um jovem casal comprou uma TV e todos os garotos do bairro vão à sua casa assistir ao torneio nacional de "sumo", ao invés de estudar. Dois destes garotos, os irmãos Isamu e Minoru pedem aos pais que comprem uma TV. Os pais recusam, e em represália os dois fazem uma greve de silêncio. Recusando-se a falar com os pais e com os outros colegas do bairro, os irmãos acabam provocando uma série de situações embaraçosas. Não é considerada uma das obras-primas do cineasta, como o maravilhoso “Era uma vez em Tóquio”, mas pode se perceber a sensibilidade e humanidade que o diretor imprime a seus personagens. Ozu é o mestre do intimismo e tinha na câmera baixa, à altura da pessoa ajoelhada no tatame sua marca registrada. É um dos ídolos de Wim Wenders, que lhe dedicou um documentário, “Tokyo-Ga”. Neste filme está presente seu ator favorito, Chisu Ryu, com quem fez 32 filmes entre 1928 e 1961. Duração: 93minutos.

Dia 13 - Trono Manchado de Sangue (Kumonosu Jô/1957). Direção de Akira Kurosawa. Com Toshiro Mifune, Isuzu Yamada, Takashi Shimura. Versão jidai-gekkitrono manchado (filme de época, de samurai) da shakespeareana “Macbeth”. General encontra três bruxas após uma campanha vitoriosa e estas lhe dizem que em breve ele se tornará daimyo (líder feudal do Japão antigo). Ao saber do episódio sua mulher o incita a realizar ele mesmo a profecia, matando o suserano e tomando-lhe o lugar. Após o crime, ele e a esposa são atormentados pela culpa, e as feiticeiras retornam dizendo que ele só será deposto quando a floresta se mover. A comunicação de Kurosawa com a cultura ocidental era de mão-dupla, da literatura ocidental ele ainda adaptaria “Ralé”, de Gorki; “O Idiota”, de Dostoievski; e “Rei Lear”, novamente de Shakespeare. O Ocidente, por outro lado, transformou seu “Sete Samurais” em western (“Sete Homens e um Destino”) e animação (“Vida de Inseto”). O diretor Antunes Filho não apenas se inspirou na visão de Kurosawa como também usou o título “Trono Manchado de Sangue” para sua montagem de “Macbeth” em 1992. Duração: 110 minutos.

céu e inferno Dia 15 - Céu e Inferno (Tengoku to Jigoku/1963). Direção de Akira Kurosawa. Com Toshiro Mifune, Tatsuya Nakadai, Kyoko Kagawa, Takashi Shimura. Baseado em um romance policial norte-americano de Ed Macbain, o filme conta a história de um diretor de uma fábrica de sapatos, Kingo Gondo, que tem o filho raptado. O seqüestrador exige uma quantia exorbitante como resgate. Mas quando Gondo vai efetuar o pagamento ele tem uma surpresa. Neste filme "film noir", Kurosawa analisa o mundo capitalista japonês e as diferenças sociais, mostrando os contrastes entre a burguesia (Céu) e a miséria (Inferno). É um dos favoritos de Martin Scorcese, que pensou em refilmá-lo. O duelo de interpretações entre Mifune – o capitalista – e Nakadai – o sequestador é um dos pontos altos deste filme subestimado á época, mas hoje considerado um dos melhores do diretor. Duração: 143 minutos

Dia 20 - A Fortaleza Escondida (Kakushi-toride no san-akunin/1958). Direção de Akira Kurosawa. Com Toshiro Mifune, Misa Uehara, Minoru Chiaki, Kamatari Fujiwara, Takashi Shimura. Durante o Japão do século XVI, um general escolta uma bela princesa fugitiva em meio ao território inimigo a caminho de casa. Em sua viagem cruzam dois medrosos fazendeiros, que estão tentando retornar para casa fortaleza depois de fugirem da Guerra Feudal. O filme é conhecido no Ocidente por ter sido inspiração confessa de George Lucas para o primeiro “Star Wars”. O agradecimento ao mestre se daria poucos anos depois: “Kagemusha”, primeiro filme do mestre em anos, foi feito com recursos levantados por Lucas e outro fã de Kurosawa, Steven Spielberg. Mas o que os dois filmes têm em comum? A trama é contada a partir do ponto de vista de dois personagens periféricos, a dupla de camponeses que é convencida a acompanhar os heróis na perigosa jornada, da mesma forma que os dróides C3PO e R2D2 são o fio condutor de “Star Wars”. Duração: 121 minutos.

o homem mau Dia 22 - O Homem Mau Dorme Bem (Warui yatsu hodo yoku nemuru/1960). Direção de Akira Kurosawa. Com Toshiro Mifune, Masayuki Mori, Kyoko Kagawa, Tatsuya Mihashi, Takashi Shimura. Um jovem se casa com a filha de um poderoso industrial buscando vingança pelo suicídio do pai anos antes. É considerado uma adaptação não-assumida de “Hamlet”, com o personagem principal atormentado pela necessidade de saber o que de fato aconteceu com seu pai dentro da empresa. O diretor disse que buscava revelar a corrupção dentro das grandes corporações de seu pais – conhecidas como zaibatsu – mas acaba sendo uma fábula universal sobre a ganância e a ausência de escrúpulos, que permitem ao homem mau dormir bem a despeito de seus atos. É um dos raros filmes de Kurosawa no qual Takashi Shimura, o grande intérprete de “Os Sete Samurais”, “Rashomon” e Viver”, interpreta um vilão. Duração: 150 Minutos

Dia 27 – Yojimbo (Idem/1961). Direção de Akira Kurosawa. Com Toshiro Mifune, Tatsuya Nakadai, Isuzu Yamada, Takashi Shimura. Um ronin yojimbo chega a um vilarejo dividido por uma guerra entre duas facções criminosas e ao mostrar suas habilidades com a espada, passa a ser cortejado pelos dois lados. Mas ele tem outros planos para a cidadezinha. Luiz Carlos Merten, critico de O Estado de São Paulo, considera este o filme de samurai definitivo. Ele foi refilmado por Sergio Leone no formato western-spaghetti com o nome de “Por um Punhado de Dólares”, filme que lançou ao estrealto um obscuro ator americano chamado Clint Eastwood. Bruce Willis também protagonizou uma versão de “Yojimbo”, ambientado na época dos gansters, em “O Último Matador”. Repare na abertura, quando Mifune chega à vila e cruza com um cachorro carregando uma mão pela boca. Duração: 110 minutos

Dia 29 - Contos da Lua Vaga (Ugetsu Monogatari/1953). Direção de Kenji Mizoguchi. Com Masayuki Mori, Machiko Kyo, Kinoyu Tanaka, Sakae Ozawa, Ikio Sawamura. Durante o período conhecido como Sengoku Jidai – Período das Guerras Feudais – dois irmãos decidem ir à guerra em busca de aventuras e fortuna, deixando as mulheres a cargo de sua pequena cerâmica de vasos. Um deles vira herói da tropa ao ser confundido com o matador de um comandante inimigo. O outro, depois de levar uma encomenda a um castelo onde vivem uma bela contos da lua vaga dama e sua ama, se envolve com a aristocrata e vive de amor e prazeres mundanos, desconhecendo o segredo que envolve sua amada. Este filme fantástico talvez não seja o melhor de Mizoguchi, mas certamente é o mais famoso no Ocidente, a ponto de ser citado por Jung em “O Homem e seus Símbolos”. Como é típico no diretor, ele contrapõe a sensatez feminina contra a estupidez e falta de bom senso dos homens. O que talvez torne esse filme particularmente querido fora do Japão é que ele foge do habitual fatalismo do diretor, terminando até com certo otimismo.


***

Esqueci de agradecer meu amigo Arabaci Schiamarelli, que arrumou os filmes e sem o qual, naturalmente, não haveria esta mostra.

Um comentário:

Anônimo disse...

Adorei seu post!

Pessoal, essa eu tenho que recomendar, dois sites interessantíssimos: www.meus3desejos.com.br e www.videoflix.com.br.

Abs.