
Ontem tivemos mais uma aula do Curso Sensorial de Vinhos, ministrado por Josi Pieri na Casa da Sogra, na qual finalmente fui apresentado ao jerez. Muito menos acessível no Brasil - tanto pelo preço quanto pela disponibilidade - que o vinho do Porto, o produto espanhol é vastamente consumido na literatura, principalmente de língua inglesa. Na segunda parte de "Henrique IV", William Shakespeare coloca as seguintes palavras na boca do soberano: "Se eu tivesse mil filhos, o primeiro princípio humano que lhes ensinaria seria fazê-los abjurar das bebidas insípidas e se dedicarem ao Jerez". Edgar Allan Poe, por seu lado, usa a bebida como isca para uma armadilha mortal em um de seus contos mais conhecidos, "O Barril de Amontillado" - que é uma das variedades do jerez.
Os ingleses começaram a importá-lo ainda sob o domínio árabe com o nome mouro de sherish (Jerez de la Frontera tem esse nome por se localizar no antigo limite dos reinos cristão e mouro na Espanha) e gostaram tanto do vinho que tentaram em vão conquistar a região produtora no século XVII. Aliás, o uísque escocês é envelhecido apenas em barris de carvalho que foram usados antes para armazenar ou bourbon americano ou jerez espanhol.
Quanto ao vinho em si, foi uma revelação. Degustamos o Viña El Alamo Jerez Oloroso (R$84,22 na Wine Company), do produtor Pedro Romero, de Sanlucar de Barrameda, na Andalucia, com 100% uva Palomino, envelhecido por 15 anos em botas de carvalho. De côr âmbar, meio leitoso, tem um forte aroma de frutas secas, especialmente amêndoas e é salgado de tão seco e de estrutura tão interessante que tornou o vinho seguinte - um Porto Tawny Valdouro, que já conhecia e consumi algumas garrafas ao longo da vida - quase sem graça. Realmente dá para entender a paixão dos ingleses por este vinho.
Um comentário:
belíssima abordagem!
Agora entendi pq vc esqueceu sua apostila... a culpa foi do Jerez...
Gde beijo;
JP
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