quarta-feira, 30 de julho de 2008

Deu no Jornal da Tarde

Cinema e shows na Boca do Lixo

Nos domingos de agosto, a Rua do Triunfo vai se transformar em um palco cultural

VALÉRIA FRANÇA, valeria.frança@grupoestado.com.br

Antigo endereço das principais distribuidoras e produtoras de filmes nacionais, a Rua do Triunfo, no Centro, hoje, vive da nostalgia de uma época em que por ali circulavam cineastas como Carlos Reichenbach, Roberto Santos e Walter Hugo Khouri, e atores como Tarcísio Meira e Vera Fischer. Para resgatar a memória do lugar, onde nasceu o cinema da Boca do Lixo, a Associação São Paulo, a Cidade e o Cinema lança um projeto que vai transformar a rua em palco para shows e sessões de cinema gratuitos. Nos domingos de agosto, o trecho entre as Ruas Vitória e dos Gusmões será interditado ao trânsito dos veículos.

Quase na esquina da Rua dos Gusmões, haverá um telão de aproximadamente 25 m2, onde serão exibidos cinco filmes produzidos na própria região entre os anos 50 e 70.

O projeto estréia com A Grande Vedete (1958), em homenagem a Dercy Gonçalves. No segundo domingo de agosto, será a vez de O Vigilante Rodoviário (1962), no terceiro e no quarto, duas produções de 1972, D'Gajão Mata para Vingar (direção de José Mojica Marins) e O Grande Xerife, com Mazzaropi. No último domingo, fechando a programação do evento, No Rancho Fundo, de 1971.

As sessões de cinema estão marcadas para 18h e, um pouco antes, às 14h, vão acontecer os shows, que ainda não estão com a programação fechada. Em alguns casos, as apresentações têm a ver com o filme. Sérgio Reis, por exemplo, deve se apresentar no último domingo, dia de No Rancho Fundo. 'Se o projeto Triunfo for um sucesso, podemos estendê-lo para setembro', diz Rodrigo Montana, presidente da associação, que começou a carreira de ator e produtor no pedaço.

Dos áureos tempos, restaram apenas duas produtoras, a Virgínia Filmes e a Cinedistri, ambas no número 134. De resto, nem mesmo a grafia da placa da rua é a mesma. Antes, escrevia-se Triumpho.

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Peguei o finalzinho do período da Rua do Triunfo como centro de produção e distribuição do cinema paulista, nos idos dos anos 80. Era programador do Cineclube Oscarito e ia lá no mínimo uma vez por mês para marcar os filmes que iríamos exibir na salinha que hoje é um dos teatrinhos da Praça Roosevelt. Exibidores de todo o País iam lá para fazer o mesmo, e não podia faltar uma passada no Bar do Léo, o lendário Melhor Chope da Capital. Às vezes passava em frente às 10h da manhã e já tinha nego no balcão com uma bela pilha de "bolachas", que assinavalam a quantidade de tulipas consumidas.

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A idéia de ressuscitar o passado cultural daquela área tão degradada é excelente, e faz mais sentido do que realizar um mega-festival de cinema numa cidade que até outro dia não tinha nem sala de exibição. Temo que o nababesco cine-teatro e festival de Paulínia acabe tendo o mesmo destino da antiga faculdade municipal, extinta com uma canetada do alcaide Edson Moura, o mesmo que ergueu o Sambódromo que, por falta de escolas de samba na cidade, tem que trazer agremiações de fora no carnaval; a rodoviária de luxo, que custou R$ 75 milhões - orçada inicialmente em R$ 55 milhões - e inaugurada com show de Ivete Sangalo, que recebeu cachê de R$ 550 mil pela apresentação.
Para fazer jus ao termo "faraônico", nada melhor que erguer uma pirâmide, como a que cobre uma igreja de Paulínia, como parte de um projeto de revitalização do centro urbano. E pensar que a passagem de ônibus urbano na cidade, que foi gratuita nos anos 90, hoje é a mais cara da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Por isso me desculpem se o cinéfilo aqui não se anima muito com essa Magia do Cinema, cuja execução justificou até uma viagem do prefeito a Cannes para ver como os franceses fazem seu festival...

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