Por Bruno Yutaka Saito
Poucas temporadas, como a atual, foram salvas por tantos super-heróis ao mesmo tempo. Com a onipresença de seres como Homem de Ferro, Hulk e Batman, a impressão generalizada é a de que o cinema regrediu (“Eles roubam o espaço do cinema ‘sério’”, é a acusação mais freqüente).
Apesar de achar o novo “Hulk” um erro em todos os sentidos, não sou da turma dos que estão saturados do gênero “adaptações de HQ”. O motivo é simples: como em todos os gêneros, há filmes bons e ruins.
O que há é superexposição de um gênero específico, como acontece de tempos em tempos _seja porque ele está na “moda” seja porque gera interesse no público. Sem levar em conta o poder de distribuição dos blockbusters, vale lembrar que em determinados momentos parece só haver documentários estreando na cidade _já tivemos ondas de filmes iranianos, orientais ou franceses estrelados por Daniel Auteuil.
O problema está na questão comercial (os super-heróis parecem agir como supervilões e roubam o espaço dos filmes “sérios”), e não na questão artística propriamente dita. Porque pode-se extrair boas questões em “Homem de Ferro” ou “Batman”. O fato de um longa ser aventura pura não significa que é totalmente desmiolado. Fosse assim, poderíamos jogar na vala comum inúmeros faroestes clássicos, ou mesmo excelentes ficções científicas.
E é também a sanha nada artística dos estúdios que provavelmente vai decretar a nova falência do gênero (que surgiu da forma como conhecemos hoje em 1978 com “Superman”). De tempos em tempos os super-heróis são derrotados por péssimos roteiros e pela necessidade de produção em série (o próprio Batman da fase Joel Schumacher, “Quarteto Fantástico” e “Demolidor”, só para citar alguns). E quando todos os heróis do primeiro time acabarem? Vamos agüentar adaptações de heróis menos populares como “Besouro Azul”?
Enquanto isso, nota-se aqui e ali uma preocupação de alguns diretores em relação à saturação dos super-heróis, numa tentativa de torná-los mais “sérios”. O Batman realista de Christopher Nolan já surtiu efeitos _nota-se a indignação de vários críticos, que analisam e atacam o filme sob um prisma político. O mais simbólico dessa movimentação toda ainda está por vir.
“Watchmen”, o clássico de Alan Moore, questiona o tempo todo (ao menos na versão em quadrinhos): como seria o mundo se sujeitos sem superpoderes vestissem máscaras e saíssem às ruas para combater o crime? (Questão que também move o novo "Batman") Não é esta uma indagação relevante para um filme dito “sério”? A pergunta, se bem explorada, pode ir muito além de “apenas” mais uma adaptação de HQ.
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